Há um certo tipo de amor que só existe nos espaços entre a realidade. O tipo de amor demasiado frágil para suportar o peso do mundo, demasiado preso ao tempo, à distância e a tudo o que conspira contra ele. Permanece como um eco, como um sonho meio esquecido que se recusa a desaparecer, por mais vezes que nos digamos que nunca foi real.
Nove conhece bem esse amor. Segue-o como uma sombra, sempre fora de alcance, sempre a sussurrar que as coisas poderiam ter sido diferentes. Não que tivessem sido, claro. Esse é o truque — acreditar num futuro que nunca teve qualquer hipótese de existir. Uma mentira tão bela que quase se torna verdade.
A música toca, devagar no início, delicada, como se tivesse medo de perturbar o silêncio. Mas cresce, como estas coisas sempre crescem, expandindo-se até se tornar imensa, impossível de ignorar. E depois, no preciso momento em que parece prestes a libertar-se, desmorona-se. Corta-se. Fica inacabada.
Porque é assim que estas coisas acabam — sem resolução, sem um verdadeiro fim, apenas com um vazio persistente, uma compreensão silenciosa de que certas histórias nunca foram feitas para ser vividas. Apenas imaginadas.
Alguns amores foram feitos para ficar atrás do vidro, intocados. Alguns vilões nunca foram pessoas.
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