O meu melhor amigo tem quatro patas. É o mais fiel de todos, o único que está sempre radiante por me ver, que faz festa cada vez que chego a casa, que dorme ao meu lado como se estivesse a proteger-me do mundo. Ele sente quando estou feliz, mas também sente quando não estou bem. Nesses dias, aproxima-se devagarinho, dá-me beijos como quem diz “estou aqui”, e depois deita-se quietinho, sem me incomodar, apenas presente, apenas ao meu lado. Se isso não é amor, então não sei o que será.
Depois, há aqueles amigos que a vida nos dá e que, por mais tempo que passe sem falarmos, sabemos que estão lá. Amigos de infância, amigos que aparecem só nos aniversários, amigos com quem falamos o ano todo, amigos a quem podemos contar tudo: as nossas conquistas, as nossas promoções, as nossas tristezas, os nossos dias de depressão e as nossas frustrações. Porque sim, também as tenho. Há amigos que são família, mesmo sem laços de sangue.
Mas depois há os outros. Os que achamos que são amigos, mas que no fundo não passam de uma ilusão que criámos na nossa cabeça. Relações virtuais, mensagens enviadas e recebidas, palavras que podiam ser verdadeiras ou apenas convenientes. São essas pessoas que não sei se contam. Fizeram parte da minha vida ou foram apenas um eco dentro do meu telefone?
E depois há o amor. Se falarmos de amor entre homem e mulher, foi algo que escolhi uma vez e escolhi mal. Depois vieram outras relações, algumas que nem sei se posso chamar de relações, mas que me fizeram perceber que o maior amor que posso ter é por mim mesma. Escolhi respeitar-me, escolher-me antes de me entregar a alguém que não me valoriza. Mas nem sempre é fácil. Há dias em que até esse amor próprio vacila, porque tenho diagnósticos que por vezes não me permitem amar-me tanto quanto deveria. E é por isso que procuro ajuda, porque quero viver da melhor forma possível, mesmo que a minha realidade não seja como a das pessoas à minha volta.
Aprendi que pôr-me em primeiro lugar não é egoísmo. É proteção.
E ontem – ou talvez hoje – cansei-me. Cansei-me de me dar, de me expor, de abrir a minha vida a quem não a merece. Tenho este defeito de caráter, eu sei. Exponho-me demasiado. Acredito demais. Mas o que recebo em troca, muitas vezes, é maldade. Então, está na hora de colocar tudo no devido lugar.
Expus-me a pessoas que nunca vi. A pessoas que foram encantadoras num momento e frias no seguinte. A pessoas que se esconderam atrás de palavras, mas nunca mostraram realmente quem são. E percebi que não quero isso para mim. Se alguém me aceita como sou, ótimo. Se não aceita, se prefere desaparecer, se escolhe esconder-se em vez de me olhar nos olhos, então é um fantasma.
O Que Sobrou do Céu” – O Rappa
Comentários