Morada Secreta, Presente Suspeito

 

Ah, o maravilhoso mundo dos presentes-surpresa. Queres oferecer algo especial a alguém, escolhes com carinho, imaginas o momento em que essa pessoa abre o embrulho e sorri de felicidade… Mas há um pequeno detalhe. Um detalhe minúsculo, quase insignificante: essa pessoa recusa-se a dar-te a sua morada.


Curioso, não? Afinal, receber um presente devia ser uma experiência agradável, e não um episódio de espionagem internacional. Mas não, em vez de te darem a morada, sugerem outra. Outra casa. Outro destinatário. Outro local misterioso onde o presente será entregue antes de – supostamente – chegar ao verdadeiro presenteado.


Ora bem, vamos refletir.

1. Hipótese A: A pessoa vive numa base secreta do MI6, e revelar a morada seria uma ameaça direta à segurança nacional.

2. Hipótese B: Essa pessoa já recebeu tantos presentes que vive num forte inexpugnável feito inteiramente de caixas de encomendas.

3. Hipótese C: Não quer que saibas onde mora. Porque não confia em ti? Porque está a esconder algo? Porque talvez nem sequer goste assim tanto de ti?

4. Hipótese D: Estás a ser feita de tonta, querida.

5. Hipótese E: A pessoa não vive sozinha. Tem namorada, namorado… ou até pode ser casado. E, claro, receber um presente teu diretamente em casa poderia levantar questões que seriam um bocadinho difíceis de explicar.


E agora o pormenor delicioso: já deveria ter percebido que isto é um padrão, um ciclo, uma coreografia bem ensaiada para evitar relações embaraçosas. Porque não estamos a falar de um caso isolado, de um erro inocente, de uma coincidência. Não. Estamos a falar de um guião já muito bem escrito e interpretado com maestria digna de um Óscar… ou, pelo menos, de um daqueles filmes britânicos em que o protagonista passa o tempo todo a meter-se em sarilhos, mas ainda assim quer que o público torça por ele.


Um verdadeiro Hugh Grant da vida real, sempre com um sorriso encantador e uma desculpa ridiculamente elaborada. Mas, ao contrário das comédias românticas, aqui não há final feliz – só um looping infinito de esquemas manhosos.


Conclusão?

Se alguém não quer que eu saiba onde mora, talvez seja porque eu não deva saber onde mora. Talvez, no fundo, o maior presente que posso oferecer a mim mesma seja o de abrir os meus olhos.


Este personagem, deste filme… já não me engana mais.





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