Silêncios Bem Enviados



Durante meses, talvez anos, houve uma presença discreta – mas constante. As mensagens apareciam com regularidade quase britânica: “bom dia”, “boa noite”, pequenas frases no WhatsApp que sabiam a hábito. Não a paixão, nem sequer a expectativa... apenas hábito. Ou assim parecia.

Não era um romance, pelo menos não nos termos habituais. Era uma amizade. Daquelas que se constrói aos poucos, feita de partilhas, silêncios cúmplices, e uma ou outra frase que ficava a pairar no ar mais tempo do que devia. Havia qualquer coisa ali... mas nunca o suficiente para se chamar de “mais”.

Depois, como que por magia – ou mais provavelmente por falta de coragem – as mensagens deixaram de chegar. Primeiro espaçadas. Depois, ausentes. O “bom dia” evaporou-se. O “boa noite” reformou-se sem aviso prévio. Nenhum comunicado. Nenhuma explicação. Apenas silêncio. Um silêncio tão ensurdecedor como um telefonema que nunca aconteceu.

E o mais curioso? Tudo isto vindo de alguém que sempre se descreveu como “muito simples” e “honesto até mais não”. Um homem de princípios – e aparentemente de desaparecimentos súbitos também.

O problema da honestidade proclamada é que, quando não vem acompanhada por gestos, transforma-se numa bela teoria. E da simplicidade? Bem, há uma linha muito fina entre ser simples e simplesmente não querer lidar com nada que exija mais do que um emoji e um “tudo bem?” a cada três semanas.

Não houve brigas. Não houve dramas. Só a ausência súbita de alguém que, até então, estava sempre ali. E claro, não posso dizer com certeza que havia algo mais do lado dele – nunca disse, nunca mostrou abertamente. Mas também nunca foi só aquela amizade leve, como quem empresta um carregador. Havia qualquer coisa. Nem carne, nem peixe. Uma coisa assim... morna.

Agora olho para trás e não sinto saudades. O que sinto, na verdade, é alívio. Por ter deixado de investir em ligações onde sou a única com a ficha na tomada. Por não ter mais que fingir que os silêncios não diziam nada. Por já não ter que traduzir meias conversas nem adivinhar intenções enterradas em pontos finais secos.

Se há coisa que aprendi com esta ausência não explicada é que até os silêncios têm significado. E este, foi bastante claro: quem quer estar, está. Mesmo que só como amigo. Mesmo que só para dizer “boa noite”.

E se eu, por acaso, significasse mesmo alguma coisa, talvez essa mensagem não tivesse deixado de chegar.

Mas não faz mal. Há ausências que nos libertam mais do que presenças que apenas ocupam espaço.

Por isso, a ti – que foste quase algo, mas acabaste por ser nada – desejo-te o melhor.

De verdade.

Simples assim.




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