Escolho a Paz
Aprendi algo que carrego comigo como uma verdade inegociável: nunca quero dormir de costas voltadas para alguém. Nunca quero deixar um dia terminar sem dar espaço ao entendimento, sem oferecer um último olhar sincero, sem dizer o que precisa ser dito.
E não é apenas por respeito ao outro—é por mim também. Porque não sei se no dia seguinte estarei cá. Nem sei se a outra pessoa estará. E se o tempo se esgotar sem um adeus, sem um sorriso, sem um gesto de reconciliação, talvez nada mais possa ser dito.
Carregar uma despedida inacabada é um peso que não desejo para mim.
Nos últimos dias, mergulhei nesse pensamento. Resguardei-me do mundo, parei o trabalho, deixei tudo suspenso. Tive a oportunidade de partir, de viajar, de largar tudo e recomeçar noutro lugar. Mas que sentido teria isso, se o que me pesa não é o lugar onde estou, mas sim a falta de paz dentro de mim?
Escolhi primeiro tentar entender-me com quem precisava de me entender.
Tentei. Mas a minha tentativa ficou no vazio.
Não houve resposta.
E isso dói. Dói não perceber porquê. Dói quando sabemos que a vida é curta demais para silêncios sem explicação, para distâncias que poderiam ser evitadas.
Esta situação trouxe-me uma tristeza imensa. Um nó no peito que me paralisou. Mas hoje, decido que chega.
Porque virar costas a alguém nunca me fez bem. Pelo contrário: arrasta-me para um espaço escuro dentro de mim, para pensamentos que não quero ter, para um estado que só quem realmente me conhece pode compreender.
Por isso, hoje faço a única escolha possível para mim.
Escolho a paz.
Não sei se estou certa. Não sei se este caminho me levará onde desejo. Mas sei que é o único que consigo percorrer sem me perder de mim mesma.
Porque no fim, as relações—sejam elas quais forem—existem para serem cuidadas, protegidas, honradas com verdade. Só algo realmente grave pode justificar o seu fim. E se isso não existe, se apenas restam teimosias, mal-entendidos, ou orgulhos que falam mais alto… então por que motivo havemos de nos afastar?
A vida é um sopro. As pessoas partem. As oportunidades de dizer “importas-me” podem desaparecer num instante.
E eu não quero viver com palavras que ficaram por dizer.
Hoje, escolho a paz. Comigo. Com os outros. Com a vida.
Comentários