A falta de paciência... essa velha companheira. Quando ela se vai, não sobra espaço para muito mais. Torno-me irritável, o pavio curto, e o mundo lá fora transforma-se num ruído insuportável. Nessas alturas, só me resta recuar. Entra em cena a minha bolha, o meu refúgio, aquilo que chamo de "autismo emocional" — uma estratégia involuntária, mas eficaz, para me proteger do caos exterior. Porque, sinceramente, é fodido lidar com tudo isso.
Talvez seja uma questão de feitio, ou de mau feitio. Admito. Sempre ouvi dizer que temos de ser tolerantes, pacientes, ter um sorriso pronto para qualquer situação. Mas quem decidiu isso? Quem decretou que eu tenho de estar disponível para ajudar, para ouvir, para ser a paz de espírito alheia, quando eu próprio estou esgotada? É isso que ninguém entende: às vezes, é só demasiado.
A paciência não é infinita. Aprimorá-la exige treino, dizem. Pois bem, nesse treino, o papel principal é dado a quem nos testa os limites. E sabem que mais? Cansei de ser cobaia nesse laboratório de tolerância. Não quero falinhas mansas nem discursos motivacionais. Não há nada que me acalme quando estou assim.
Se estou em silêncio, é porque estou a lidar com a trovoada que cresce dentro de mim. Ou, simplesmente, estou a recuperar forças. Talvez não seja raiva, talvez só esteja farta. Farta de tudo e de todos.
Nessas alturas, desligo. Recolho-me no silêncio, em todas as suas formas. No silêncio das palavras, das emoções, da presença. Regresso quando quiser, quando a paciência voltar — ou talvez nem volte, quem sabe. Porque, no fim do dia, ser paciente nem sempre é o caminho. Às vezes, é preciso deixar o mundo esperar.
E, até lá, fica o recado: não insistam. O silêncio também é uma resposta. E, por vezes, é a única que estou disposta a dar.
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