Murmuro pela manhã, levanto a cabeça apenas para sentir o peso da existência, e decido: hoje, o mundo pode esperar. A minha almofada é o meu porto seguro, e o meu duvet protege-me do ruído lá fora. Estou off. Off em todos os sentidos.
Sou bipolar. Isso significa viver entre extremos: altos que tocam as nuvens e baixos que me arrastam para as profundezas da terra. É uma dança constante entre a euforia que desafia limites e uma exaustão tão profunda que até respirar dói. Junta-se a isso o borderline, e a vida transforma-se num labirinto emocional, onde apego e afastamento lutam constantemente pelo controlo.
Hoje, vence o afastamento. Autismo emocional, alguns chamam-lhe. Não me importo com os julgamentos. Esta é a minha bolha. O meu refúgio. Um espaço onde as expectativas do mundo não me alcançam. Onde não tenho que sorrir, ajudar ou desempenhar qualquer papel.
Já prometi a mim própria, tantas vezes, que não voltaria a abrir portas para os outros. Que não voltaria a dar a minha energia a quem talvez nem se importe. Mas quebrei sempre essa promessa. E aqui estou, de novo, esgotada, vencida pela minha própria bondade.
Por isso, hoje, eu durmo. Não porque sou preguiçosa ou porque quero fugir, mas porque a minha alma exige. Isto não é um luxo; é sobrevivência. “I’m sleeping my day away.” Essas palavras ecoam como um hino. O dia e a noite são o meu tempo, o momento em que posso existir sem ser necessária, sem ter de usar máscaras.
Esta bolha não é um pedido de desculpa, nem um convite. É o meu santuário. Se me virem aqui, deixem-me estar. Estou a descansar, a recarregar, a juntar os pedaços de mim mesma. Deixem-me permanecer neste casulo até estar pronta para sair, se alguma vez quiser sair.
Sou bipolar. Sou borderline. Sou humana. E hoje, estou desligada, sem pedir desculpa.
Por isso, por favor, não me tentem acordar. Não me procurem. Estou a render-me à beleza do sono, aquele que vai além do descanso — é renascimento. Um beauty sleep para o meu espírito em frangalhos.
Hoje, I’m sleeping my day away.
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