Há algo de fascinante na intuição. É uma sensação que parece vir de dentro, como se uma parte de nós soubesse o que fazer antes de qualquer raciocínio lógico. Mas e quando essa intuição falha? Quando aquilo que sentimos como certo nos conduz a uma decepção?
Senti isso recentemente, de forma avassaladora. Acreditei em alguém que não conhecia, alguém que, por meio de mensagens de WhatsApp — muitas delas fragmentadas e difíceis de interpretar —, captou a minha atenção. Confiei no meu instinto, mas o instinto traiu-me. O sentimento de falha foi mais profundo porque, ao fim ao cabo, não era só a outra pessoa que parecia inconstante — era a minha própria perceção.
Recordo-me especialmente de um episódio. Fiz questão de enviar um presente de anos a essa pessoa. Não por obrigação, mas por genuína empatia, por querer demonstrar que me importava. Contudo, em vez de me partilhar a sua morada, como seria natural, pediu-me que enviasse o presente para casa de um familiar meu, sem qualquer explicação clara. Porque insisti em seguir em frente, mesmo perante esta situação? Será que, naquele momento, já deveria ter tirado as minhas próprias ilações?
Para tornar tudo mais confuso, houve momentos em que essa pessoa mencionou a divindade como explicação para as suas escolhas e mudanças de atitude. Mas, quando questionei o que isso significava, não me soube responder. Ficava-me apenas o vazio das palavras, enquanto tentava entender: o que é, afinal, a divindade? Como é que algo tão impreciso pode justificar uma mudança de ideias, ou a ausência de ação?
O mais curioso é que, em nenhum momento, este vínculo foi sobre algo amoroso. Não se tratava de sentimentos românticos, mas de uma empatia que parecia diferente, especial. Talvez porque também me sinto diferente do padrão das pessoas à minha volta. Talvez porque, ao reconhecer essa diferença no outro, quis acreditar que havia ali algo genuíno e autêntico. Independentemente da nossa diferença de idades, que para mim nem faz qualquer sentido sequer pensar nela.
Pergunto-me se a intuição é assim tão confiável. Será que é mesmo uma bússola ou, às vezes, uma projeção dos nossos desejos, medos e carências? Ao confiar em quem não conhecemos, entregamo-nos ao desconhecido, e, em troca, esperamos que o universo retribua com verdades. Mas nem sempre é assim. Por vezes, o desconhecido devolve-nos silêncio, incerteza e até desilusão.
Acredito que, no fundo, procuramos reconhecer nos outros algo que desejamos encontrar em nós mesmos: segurança, compreensão, reciprocidade. Mas quando o outro não corresponde, a sensação de perda é inevitável, porque não estamos apenas a perder a ideia da pessoa em si — estamos a questionar a nossa própria capacidade de julgar e confiar.
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