A noite tem um jeito peculiar de se insinuar, como se soubesse que há certos desejos que só despertam no escuro. O som lá fora desvanece, o mundo adormece, e eu fico só com o ruído do meu próprio pensamento – e contigo, mesmo que apenas na projeção da minha pele.
Imagino o toque antes que aconteça, antecipo-o num jogo cruel onde a espera é a tentação mais doce. A ponta dos dedos desenha roteiros invisíveis na pele, escrevendo histórias que não precisam de palavras. Respiro fundo. A luxúria tem um perfume próprio, uma mistura entre desejo e promessa, entre um quase e um inevitável.
Sorris. Talvez saibas que me tens presa nesse fio de tensão onde tudo pode desabar ou incendiar-se num único segundo. Há uma arte em provocar sem tocar, em sugerir sem expor, em prolongar o momento até ao limite do insuportável. O silêncio entre nós carrega tanto significado quanto um sussurro ao ouvido.
És presença e ausência ao mesmo tempo. Um paradoxo onde me perco e onde me reencontro. E quando, por fim, o inevitável se concretiza, há aquele instante – breve, intenso, absoluto – em que o mundo deixa de existir, onde só restam os corpos e os sentidos. E tudo o resto se torna um borrão irrelevante.
Depois, vem o depois. O rasto de calor na pele, o sabor que ainda fica na boca, o pensamento que vagueia sem direção. Poderia ser apenas um devaneio, mais um entre tantos, mas o corpo sabe que, mesmo quando tudo acontece apenas na mente, a realidade do desejo é inegável.
Talvez, no fundo, a imaginação seja apenas um outro tipo de verdade.
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