Este ano não vivi 365 dias. Este ano lutei 365 batalhas. Algumas ganhei. Muitas perdi. Mas a luta constante que me atravessou o coração e a alma não foi apenas contra o mundo exterior – foi, sobretudo, contra mim mesma. Porque viver em 2025, com os pés fincados em décadas de experiência e os olhos abertos para o futuro, é um paradoxo. É observar um mundo que muda a uma velocidade que já não consigo acompanhar, mesmo quando quero. É olhar para relações – reais ou virtuais – e sentir que a essência se esvaiu.
Nunca fui ingénua. Sei como o mundo funciona, talvez até melhor do que deveria. Já vi de quase tudo: a beleza e a fealdade das pessoas, a verdade que resiste e as mentiras que nos atravessam como lâminas. Mas este ano algo mudou. Ou talvez não seja o mundo que mudou – talvez tenha sido eu. Talvez seja apenas o peso acumulado de 365 anos de lições que o meu coração carrega e que, ainda assim, continuam a surpreender-me.
A frustração tomou conta de mim de uma forma avassaladora. Não é que eu não queira acreditar nas pessoas. Pelo contrário: continuo, contra toda a lógica, a procurar o melhor nelas. Mas quando essas relações existem apenas num plano virtual, tudo se torna mais nebuloso. É um mundo onde palavras belas e promessas vazias andam de mãos dadas, onde o efémero se disfarça de eterno. E, mesmo com a minha experiência, deixo-me enganar. Não é por falta de aviso interno – é por querer acreditar que há algo diferente, algo genuíno.
Mas, sabem? Essa ingenuidade é um fardo que já não quero carregar.
Já vivi demasiado para continuar a dar prioridade a algo que não me devolve o mesmo em troca. Conhecer pessoas “diferentes” não me interessa, porque a diferença deixou de ser suficiente. Não quero rótulos, quero substância. Quero aquilo que o mundo virtual raramente consegue oferecer: presença, olhar, alma. E esta urgência de filtrar o que entra no meu espaço não vem de um lugar de amargura. Vem, sim, de um lugar de exaustão. Porque há uma verdade que não muda, mesmo depois de tantos anos: só vale a pena lutar pelas coisas que nos transformam e acrescentam algo real à nossa vida.
Estes próximos 365 dias não serão dias de batalhas com os outros. Não serão dias de explicações, nem de tentativas de salvar o que já nasceu para ser perdido. Estes serão dias para mim. Porque, sim, já vi muito, mas ainda não vi o suficiente de mim mesma.
Aceito, finalmente, que sou assim. Que a minha prioridade não é desbravar mais caminhos em terras alheias, mas fortalecer as raízes que já tenho. Aceito que não vou mudar, porque mudar não é sempre evolução. Às vezes, é perder o que já se conquistou.
Se há algo que quero deixar aqui, nesta mensagem para mim mesma e para quem me lê, é isto: o mundo pode continuar a transformar-se à sua maneira. E eu, à minha. Não serei arrastada pelas ondas de tendências, virtualidades e ilusões. Fico na margem, a observar, porque sei que é aqui que pertenço.
Os próximos 365 dias serão diferentes porque, pela primeira vez, não lutarei contra o contracenso do mundo. Vou abraçá-lo, aceitar que ele segue o seu rumo enquanto eu sigo o meu. Afinal, a batalha que importa é só uma: a de me manter fiel àquilo que sou.
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