Réu Confesso
Há quem escreva frases bonitas como se fossem confissões.
“Uma mentira é uma mentira… mesmo a mais branca das mentiras é uma mentira.”
Li isto vindo de alguém que me mentiu. Repetidamente.
E naquele instante, percebi tudo: ele não estava a confessar — estava a encenar.
É importante dizer isto de forma clara: quando alguém mente compulsivamente, essa pessoa não vive apenas em função da mentira — ela existe através dela. A mentira é o seu escudo, a sua arma, o seu alimento. E muitas vezes, nem tem plena consciência disso.
Do ponto de vista psicológico, o mentiroso compulsivo pode surgir de uma infância marcada por medo, insegurança, castigos ou ambientes em que a verdade nunca teve espaço seguro para existir. Cresce, então, a usar a mentira como ferramenta de sobrevivência.
Mas o que começa como defesa, torna-se vício. Um padrão. Uma personalidade.
E é aí que tudo se torna perigoso.
Um mentiroso compulsivo não mente só sobre onde esteve ou o que fez. Mente sobre o que sente. Sobre quem é. Sobre o que te promete. Mente quando diz que está a mudar. Mente quando chora. Mente quando diz que és boa pessoa, uma incrível pessoa.
E se um dia escreve uma frase sobre a importância da verdade… não te iludas:
não é redenção. É distração.
Essas frases moralistas não são confissões.
São tentativas de criar um álibi emocional.
São golpes de teatro, ensaiados ao espelho.
No fundo, ele não está a assumir nada. Está apenas a tentar manter o controlo sobre a narrativa. Quer parecer consciente. Quer parecer honesto. Mas tudo isso vem tarde demais — quando já foi apanhado. Quando a verdade começou a sair pelas brechas. Quando as mentiras já se atropelavam umas às outras.
E no meio de tudo isto… há alguém que se despedaçou.
Alguém como eu.
Alguém que acreditou. Que se entregou com sinceridade.
E que hoje vive com as consequências de ter sido enredada numa realidade falsa.
A manipulação emocional não grita.
Ela sussurra.
Faz-se de frases com sabedoria barata, de silêncios manipulativos, de confissões a meio.
E tudo isto para que o foco volte para ti.
Para que tu te sintas errada.
Para que tu duvides de ti mesma.
Para que tu acabes a pedir desculpa… por teres descoberto a verdade.
Mas hoje, quem escreve sou eu.
Com tudo o que vi. Com tudo o que vivi. Com tudo o que entendi.
E escrevo com a certeza de que, por mais que o mentiroso fuja,
um dia torna-se réu confesso.
Nem que seja só pelas contradições que o denunciam.
Nem que seja porque, um dia, alguém já não engole mais nada.
Este texto é para mim. Mas também é para ti, que talvez estejas a sair de um labirinto parecido.
Lembra-te: tu não foste fraca por acreditar.
Foste forte por sobreviver.
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