Cebolas a Tremer: A Revolta da Batata
Um dia… um dia eu vou fazer as cebolas chorar.
Sim, leste bem. Não é metáfora, nem promessa de cinema motivacional. É uma ameaça emocional, servida com faca de chef. Porque se há vegetal que se acha a realeza da cozinha, é a cebola. Está sempre no centro da ação, como se nenhum prato pudesse existir sem o seu toque dramático. E, claro, não perde uma oportunidade para nos humilhar com lágrimas. E não são lágrimas quaisquer — são aquelas que aparecem do nada, te borram a maquilhagem e te fazem parecer que estiveste a ver um filme do Nicholas Sparks enquanto cortavas alho.
Mas chega. Basta. Está na hora da revolta.
E não estou sozinha.
A batata, que há anos vive resignada no papel de acompanhamento, levantou-se. Disse “já chega” com a firmeza de quem foi esmagada vezes demais. E agora está comigo. No mesmo saco — literalmente.
Juntas, formamos uma frente unida:
“Terror na Tábua de Cortar”.
A missão? Subverter a ordem natural da cozinha.
A cebola vai chorar.
E não será por amor.
Vai chorar porque nós vamos deixá-la de lado numa receita. Porque um dia vamos fazer um refogado sem ela, só para a fazer sentir irrelevante. Vamos cozinhá-la com o lume demasiado baixo, para lhe estragar o tempo de estrelato douradinho. Ou pior… vamos usar cebola frita de pacote — a versão instantânea da humilhação.
E, claro, há sempre a ameaça suprema: fazer sopa de cebola… e não lhe pôr cebola. Só para ela saber como é ser ignorada. Porque o drama não é só dela.
A batata? Ah, a batata está a adorar. Finalmente no papel de justiceira, com aquele ar humilde de quem só queria ser puré e acabou a ser símbolo de resistência culinária. A cebola não estava preparada. Pensava que bastava libertar uns vapores ácidos e já controlava tudo. Mas não, minha amiga, hoje quem manda sou eu. E trago reforços com casca.
Reflexão final, completamente dispensável mas que ninguém pediu para parar:
A vida é feita disto. Pequenas vinganças emocionais contra alimentos que nos fizeram sofrer. Cebolas, ex-namorados, a operadora de telecomunicações… tudo junto no mesmo tacho de ressentimentos com sabor intenso.
Mas hoje, só hoje, a cebola vai sentir na pele — ou melhor, na casca — o que é ser vítima do drama.
E nem um pingo de lágrima será desperdiçado.
Porque é assim que a cebola vai estar: a afogar-se em emoções profundas e camadas de arrependimento.
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