Senti uma vontade incontrolável de declarar o meu amor à pessoa que transformou por completo a minha vida, que me fez ver e viver a vida de uma forma diferente e que me fez sentir todos os dias uma mulher especial...
Aquela pessoa que conheceu cada parte do meu corpo, que percebeu todos os meus sentimentos e desejos, mesmo que eu negasse todos eles.
Que tratou de mim quando tão frágil eu me encontrava. Que me deu colo, que me alimentou, de quem recebia flores quase todos os dias.
Era bom se um amor verdadeiro pudesse a tudo resistir. A tudo, principalmente ao tempo e à distância…e ao desencantamento!
De repente e de um dia para o outro senti a tua falta. Da tua gargalhada, das tuas coisas boas, do teu cheiro e da tua pele. Senti falta do meu “Peter Pan”.
Não senti falta das coisas menos boas e nem das más. Mas contrabalançando umas e outras, o teu amor por mim foi mesmo muito forte.
As nossas loucuras foram vividas com uma intensidade tão possante, indescritível para o comum dos mortais.
Mesmo que por uns momentos tenha sentido a tua falta, a nossa relação
terminou de uma forma doentia e desamorosa.
Não te direi adeus porque não dá para desfazer um laço que já estava desfeito
faz muito tempo. Morreste e não me despedi de ti!
Tu foste o meu Peter Pan e eu fui a tua Cruela Devil. Mas estranhamente, quando olho para o céu, por vezes vejo a tua estrela cadente.
Penso muito sobre tudo o que aconteceu connosco.
E ao mesmo tempo que me vem uma alegria imensa por eu ter vivido algo tão especial, também me dá uma tristeza enorme de saber que tudo se acabou de uma maneira brutal.
O meu desapego já tem anos. quase uma vida! Mas hoje, Peter Pan, bateu-me uma saudade doentia do nosso amor, igualmente doentio.
Ontem chorei por ti. Não tem outro jeito e não sei nem explicar o porquê.
Senti de novo os teus olhos a encontrarem os meus, a tua pele em mim, o teu cheiro no meu cheiro. Tudo isso acabou! Morreste e não me despedi de ti!
Passei a encarar o amor de uma forma diferente a partir do momento em que compreendi de que é feito o amor. A partir do momento da tua morte.
Não passei a considerar que é algo menos belo, mas ao compreender o que é e como chegámos a ter essa capacidade, tornou-se ainda mais valioso.
Cheguei a escrever um texto acerca disso nessa altura:
Sem amantes não há amor.
Apesar da aparente puerilidade desta quase afirmação de Monsieur de La Palice, nela está encerrada toda a verdade do que realmente é o amor.
Pois o amor é mágico sem que exista magia.
O amor é química. E, se bem que descrevo o amor nestes termos aparentemente depreciativos e calculistas, tal não lhe retira a sua importância ou beleza.
Porque o que interessa não são quantas as partes por milhão que existem de oxitocina, dopamina, serotonina, estrogénio, etc., no meu corpo.
O que interessa é aquilo que eu posso fazer por estar intoxicada dessas hormonas.
As loucuras que cometo por estar encharcada dessas moléculas.
Os atos que pratiquei e as vidas que afetei, e talvez afete, enquanto sob o efeito desses químicos.
Sem amantes, o amor não existe. Pois não há amor externo a quem ama.
Existe entre dois amantes e somente neles, entre eles, deles.
Tal como um arco-íris não passa de uma ilusão de ótica resultante da refração da luz branca nas gotas de água que funcionam como prismas.
E isso não retira nem um ínfimo mícron de beleza a um arco-íris.
Pelo contrário.
Leva-nos a sentir que até aquilo que não passa de um fenómeno natural tem encerrado em si o potencial poético de mexer com as nossas emoções, levar-nos a pintar quadros, a escrever poemas, a compor músicas...
Tudo é real.
E o real é belo.
E o belo é mágico.
E a "magia" é ainda mais interessante quando é real.
Adeus, meu Peter Pan, minha estrela cadente, dos bons e maus momentos.
Se eu sei o que é o Amor? Pensei que o tinha aprendido contigo. E é só isso!
“…. Que estranha forma de vida
Tem este meu coração
Vives de forma perdida
Quem lhe daria o condão?
Que estranha forma de vida
… Coração independente
Coração que não comando
Vives perdido entre a gente
Teimosamente sangrando
Coração independente
… E eu não te acompanho mais
Para deixa de bater
Se não sabes onde vais
Porque teimas em correr
Eu não te acompanho mais
… Se não sabes onde vais
Para deixa de bater
Eu não te acompanho mais...”
Amália Rodrigues
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