Mentiras
Há pessoas que mentem por necessidade. Outras por hábito. Outras ainda porque nem sabem que estão a mentir — acreditam tanto na ilusão que criaram que já não distinguem o que é real.
Eu fui enganada durante mais de um ano por uma dessas pessoas.
Um mentiroso compulsivo. Alguém que mente com convicção. Que olha nos olhos enquanto te ilude. Que manipula, que distorce, que fabrica versões da realidade onde ele é sempre a vítima, o herói, o homem ideal. E eu, com toda a minha boa-fé, acreditei. Amei. Apoiei. Estive presente. Fui leal. Dei tudo o que podia.
Hoje percebo que caí num enredo meticulosamente construído. Mentiras sobre o passado, sobre sentimentos, sobre intenções, sobre factos. Meias-verdades ditas como se fossem inteiras. Verdades omitidas com precisão cirúrgica. Histórias escondidas atrás de sorrisos, de promessas doces, de mensagens calculadas.
A pior parte? Muitas dessas mentiras não eram sequer ditas para enganar — eram ditas porque ele próprio já acreditava nelas. O mentiroso compulsivo vive num mundo que ele próprio inventou. E arrasta os outros para lá. Envolve-os. Usa o afeto como isco. E depois, quando já não precisa… descarta.
Este tipo de pessoa é perigosa. Pode parecer encantadora, atenciosa, doce. Mas por trás disso, esconde-se alguém que usa as palavras como armas. Que manipula com um sorriso. Que destrói com silêncio. E que, quando confrontado, se faz de coitadinho — ou pior, vira a culpa contra ti.
É importante que se diga: a mentira tem um preço. E, mais cedo ou mais tarde, a verdade vem ao de cima. Seja por quem for. Seja como for. E quando isso acontece, há consequências. Às vezes sociais. Outras vezes profissionais. E outras ainda, emocionais — para quem, como eu, confiou de coração aberto.
Ser enganada por um mentiroso compulsivo deixa marcas. Faz-nos duvidar da nossa intuição, da nossa inteligência, da nossa própria perceção da realidade. Mas não devemos ter vergonha. Estas pessoas são mestres na arte de mentir. São treinadas. Viveram assim toda a vida. Nós apenas fomos humanas. Confiámos. E isso não é um erro — é uma qualidade.
Se estás a ler isto e passaste por algo semelhante: não te cales. Não deixes que te façam sentir pequena por teres acreditado. Não foste fraca — foste forte o suficiente para te dares por inteiro. E isso nunca é um defeito.
A mentira tem pernas curtas. E o mentiroso, por mais que corra, acaba sempre por tropeçar nelas.
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