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O Peso das Relações Vazias


Tive um sonho.

Sonhei que caminhava por uma estrada longa, onde algumas pessoas andavam ao meu lado, enquanto outras ficavam para trás. No início, tentei chamar aquelas que se afastavam, tentei trazê-las de volta, mas os seus passos tornaram-se cada vez mais distantes. No sonho, senti uma tristeza momentânea, mas continuei a caminhar. Foi então que encontrei um velho sábio sentado à sombra de uma árvore.

Ele olhou para mim com serenidade e disse:

Nem todas as pessoas que entram na tua vida vieram para ficar. Algumas são apenas capítulos, não o livro inteiro. Se alguém se afasta, não corras atrás. Deixa ir. Porque quem quiser caminhar contigo, caminha por vontade, não por obrigação.

Acordei com estas palavras gravadas na minha mente. E, ao longo do dia, fui percebendo que a vida já me tinha mostrado esta lição tantas vezes.

Nem sempre é fácil admitir, mas há relações que nos pesam mais do que nos acrescentam. Pessoas que estão presentes, mas nunca realmente perto. Pessoas que enviam mensagens por rotina, mas sem um real interesse em saber como estamos. Pessoas que fazem promessas vazias, desculpas sucessivas, que nunca se traduzem em ações concretas.

Vivemos tempos em que a comunicação se tornou instantânea, mas paradoxalmente mais distante. Há mensagens todos os dias, curtas, automáticas, sem contexto. “Bom dia”, “boa noite” – palavras soltas, como se fossem uma obrigação cumprida sem esforço. Mas depois, o telefone nunca toca. E há pessoas das quais gostaríamos de ouvir uma voz, não apenas ler palavras apressadas num ecrã. Porque há coisas que não se dizem por escrito. Há silêncios que uma chamada quebra, mas que uma mensagem nunca preenche.

E depois há aquelas palavras que ouvimos, mas que parecem vazias. Já me disseram que sou uma boa pessoa. Algumas até disseram que sou uma muito boa pessoa. Mas de que vale ouvir isso quando as ações não refletem o mesmo? Quando o tratamento recebido não corresponde às palavras que foram ditas? A verdade é que não quero rótulos, quero respeito. Não preciso que me digam o que sou, preciso que demonstrem através da forma como sou tratada.

Não espero que ninguém me coloque num pedestal. Não quero atenção forçada ou presença por obrigação. Quero, sim, respeito. Quero reciprocidade. Quero que a minha presença na vida de alguém seja tão natural quanto a presença dessa pessoa na minha. Mas quando tudo se torna um esforço unilateral, quando se acumulam ausências disfarçadas de pretextos e silêncios mascarados de formalidades, há algo que precisa de ser questionado: esta relação vale realmente a pena?

A vida ensina-nos a reconhecer padrões. Pessoas que só aparecem quando lhes convém. Que somem e voltam como se nada fosse. Que ignoram convites, mas esperam ser lembradas. E, no meio disto tudo, a única coisa que se torna evidente é a necessidade de deixar ir.

Não porque haja mágoa ou ressentimento, mas porque chega um momento em que percebemos que merecemos mais. Mereço estar rodeada de quem me quer bem, de quem faz questão de estar presente sem que eu tenha de insistir. De quem se lembra de mim não só quando precisa, mas porque genuinamente quer saber como estou.

E, da mesma forma que é isto que quero para a minha vida, é também o que desejo para a vida de quem não me tem correspondido. Porque ninguém merece viver de relações vazias, de ligações pela metade, de presenças ausentes. Cada um de nós merece estar onde há interesse genuíno, onde o carinho e a atenção acontecem sem esforço, sem obrigação. Onde não é preciso questionar se se é importante, porque a resposta está sempre na forma como somos tratados.

Por muito carinho que tenha por certas pessoas, compreendo que nem sempre estamos destinados a caminhar lado a lado. E, se for esse o caso, então que cada um siga o seu caminho. Não com ressentimento, não com tristeza, mas com a certeza de que a vida nos coloca onde realmente pertencemos.

A vida já tem desafios suficientes. Não quero carregar relações que me fazem sentir dispensável. Quero estar onde sou bem-vinda, onde a minha presença não seja um incómodo ou um favor. E, se for preciso seguir sem certas pessoas, que assim seja. Quem quiser ficar, que fique por inteiro. Quem não quiser, que siga o seu caminho – e eu seguirei o meu, sem olhar para trás.

E assim, como naquele sonho, continuo a caminhar.






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