Hoje faço anos. Quantos? Pouco importa. Se gostam de números, nasci a 16 de fevereiro de mil novecentos e troca o passo. Façam as contas se quiserem, mas não me perguntem a idade – porque, com tantos tropeços pelo caminho, às vezes nem eu sei bem. O que interessa é que foram anos vividos, alguns inesquecíveis, outros que dispensava, e um ou outro que podiam ter ficado na gaveta do universo.
Houve anos de sorte. De infância feliz. De um pai excecional, que deixou marcas que nunca se apagam, de uma mãe presente. De uma irmã que se tornou uma excelente amiga num momento certo, quando o chão parecia falhar, que apareceu quando mais precisei, dando-me carinho e apoio. De um irmão que adoro, que na adolescência foi o meu cúmplice de loucuras, mas que, com o passar dos anos e a construção da sua própria família, seguiu o seu caminho e a vida tratou de nos afastar um pouco.
Houve anos de aprendizagem – e, diga-se, de aprendizagens duras. Fui mestre em meter-me onde não devia, em dar palco a quem não merecia. Fiz sofrer, fiz-me sofrer. Mas a vida tem voltas, e eu, teimosa como sou, fiz questão de dar a volta também.
Hoje, olho para trás e vejo que, entre quedas e conquistas, a minha vida foi – e continua a ser – cheia. Já não tenho um batalhão de amigos como achava que devia ter. Tenho poucos, mas os certos. Aqueles que atendem quando ligo. Os outros? Mandam uma mensagem de vez em quando. Telefonemas parecem estar em vias de extinção, mas cada um com o seu feitio.
Sobrevivi a 2024. E não, não foi um ano fácil. 2024 começou comigo a ser operada no dia 1 de janeiro. Começar o ano numa sala de operações não estava nos planos, mas pronto, cá estamos. Depois, veio o resto: perdas, mudanças, despedida do emprego– algumas forçadas, outras escolhidas. Até de saúde não foi um grande ano, mas felizmente tudo se supera quando se tem bons médicos e bons acompanhamentos. E com sorte, também se ganha alguma paciência pelo caminho.
E sabem o mais curioso? Há pouco menos de 10 anos, enchi uma sala com 170 pessoas para celebrar os meus anos. Hoje, dessas 170, talvez sobrem dez. O resto? Foi-se. Uns porque a vida quis, outros porque eu quis, outros porque quiseram. E há ainda os que partiram de vez, e que me fazem falta todos os dias.
Mas, tal como na canção, maybe this time, maybe this year. Talvez desta vez seja diferente. Talvez os ventos mudem. Talvez esteja na hora de aprender a celebrar os anos como eles são – sem expectativas, sem fantasmas, sem o peso do que já não volta.
E já que estamos a falar de aprender… Este ano até chileno andei a tentar falar. Eu, que já me meto em sarilhos suficientes na minha própria língua, achei por bem adicionar mais uma à lista. Uma nova amizade, uma nova língua, uma nova desculpa para dizer “weón” em contextos inapropriados. Enfim, há coisas que nunca mudam.
Por isso, obrigada. A quem ficou. A quem esteve. A quem olha por mim, onde quer que esteja. A quem, à sua maneira, continua presente. Obrigada ao meu cão, porque nunca falha – e porque é a única alma nesta casa que me recebe em festa, sempre.
Obrigada também àqueles amigos que, sem esperar nada em troca, muito me deram de apoio.
E, claro, quero agradecer a toda a minha família. Não só, obviamente, à minha família direta, mas também aos quase 300 tios, primos, sobrinhos, sobrinhos netos e muitos que ainda nem conheço. Porque fazer parte de uma família – a família Carrilho – que é tão conhecida em Braga, é para mim um motivo de orgulho. Porque é, de facto, uma família excecional a todos os níveis. E porque sei que a família Carrilho, estejam mais próximos ou menos próximos, todos se ajudam sempre.
E não podia deixar de agradecer à minha cunhada Mia, que ao longo dos anos se tem revelado uma pessoa que se preocupa muito comigo. Pequenos gestos, grandes atitudes – e isso, para mim, vale muito.
Hoje, não sei bem o que sentir. Mas sei o que pedir.
Às minhas estrelas cadentes, só peço: estejam aí por mim.
Feliz dia para mim. E que 2025 venha com mais saúde e com mais sorte.
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