LONGE DA VISTA LONGE DO CORAÇÃO….
A teoria do "longe da vista, longe do coração" é clássica, parece lógica e, às vezes, até funciona.
Mais tarde ou mais cedo chegamos todos à conclusão de que temos de nos afastar de alguém, de um assunto, de uma actividade. A forma como chegamos a esta conclusão também não é do mais original: deixamos amontoar as pistas, os indícios que a relação custo-benefício, que nos fazia estar com alguém ou com alguma coisa, se desarticulou de tal maneira que só ficaram os custos.
Um dia batemos de frente no facto de ser tudo um peso. Se se trata de uma pessoa, verificamos que tudo nos desagrada, nos irrita, que nos apetece queixarmo-nos dela, que sentimos que o que vem dela, o que nos é dado, é sempre pouco, insatisfatório.
Sentimo-nos tensos, regressivos, desejosos de cobrar qualquer coisa que achamos que nos é devida mas que a maioria das vezes nem sabemos nomear.
Com assuntos, actividades, trabalhos, o panorama não é muito diferente. Sentimo-nos pouco apreciados, indevidamente compensados, ocupando muito menos espaço do que aquele a que temos direito.
Vai daí, concluímos que temos de nos afastar. Que é indigno continuar. Que é ilógico, irracional e sem sentido.
A decisão costuma ser administrativa, como para as dietas, o deixar de fumar e outras grandes decisões do mesmo género: amanhã, segunda-feira, no próximo mês.
As decisões de afastamento, de não telefonar, não aparecer, não fazer perguntas nem mandar recados parecem tão adequadas e bem estabelecidas que sobrevêm algum espanto quanto bate a saudade, a curiosidade, o desejo incontrolavél de ver ou ser visto.
Há genuína perplexidade quando, depois de tantas contas e racionalizações, de tantos argumentos e conclusões, o pensamento foge ao controlo e as ideias param, lá, no sítio em que não se quer.
Inventam-se truques, ocupações para não cair em tentação ou em distracção e deitar tudo a perder voltando, fisicamente, ou em espirito, ao local do crime.
È um trabalho árduo, que exige treino, perseverança e convicção.
Melhora-se dia a dia mas, às vezes, inesperadamente, colapsa-se ou tem-se recaídas.
Aí recomeça-se de novo, pondo para o lado os pensamentos que irrompem e invadem a tão desejada tranquilidade.
Enchendo as horas e os dias e os tempos mortos, até o cansaço chegar e ocupar o vazio, o desespero ou a saudade.
Dia a dia, chega-se lá, ao lugar em que todos os chavões são permitidos e em que se pode começar a acabar dizendo "longe da vista, longe do coração".
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