Aos pobres de mão estendida, quando se rejeita a esmola, diz-se:”Tenha paciência”.
Nas situações mais difíceis em que alguém narra o seu desgosto por um filho que não atina, um pai que está doente ou alguém que se porta mal sem resolução à vista, há sempre alguém que sussurra:”É preciso ter paciência”.
Quando se espera e desespera numa fila de trânsito, numa urgência de hospital, num processo judicial, em pano de fundo vai martelando como ladainha de auto convencimento o:”há que ter paciência”.
Chega-se a dias que se desiste. Do exame, do emprego, do amigo, da família, de um certo estilo de vida ou, até, de um sonho porque “já não há paciência”.
A paciência, sobretudo a que se tem, costuma ser referida como uma virtude. A virtude que se usa ou se tem para suportar resignadamente injurias, maldades, desfeitas, humilhações e, já agora, atrasos, esquecimentos, abandonos e sucedâneos.
A paciência que não se tem é, por seu turno, um defeito. Um defeito, se não grave, pelo menos incómodo, já que os que não sabem esperar ou suportam mal o desdém ou o mero desinteresse respondem habitualmente de forma agressiva. Nuns casos, gritam, berram, reivindicam a torto e a direito direitos que têm e não têm. Noutros não dizem coisa alguma, mas viram as costas numa atitude sobranceira e diletante que deixa no rasto a mensagem antipática: “Esperem vocês, aguentem vocês, estou-me nas tintas.”.
Numa certa tradição inspirada no orientalismo, que justifica expressões como a “paciência de chinês” ou, de uma forma mais sofisticada, “faz do saber esperar uma via de sabedoria e meditação para todos os aspirantes a Buda”, a paciência raia o dom.
Para o nosso mundo frenético em que “tempo é dinheiro”, nas versões mais materialistas, e em que o “quero tudo, já” é slogan revolucionário e anarquista, parece que a paciência não se enraíza como valor maior. Mais do que um exercício de estilo, mais do que um traço de personalidade a cultivar, mais do que uma característica simpática e acolhedora de algumas pessoas, a paciência é a antecâmara vazia de um desejo que se orienta para um qualquer sentido. Se se chega a descobrir que a paciência, a atitude sensata, comedida e expectante não conduz a lado nenhum, não gera, não é frutífera nem gratificante, alguém vai ter que explicar para que raio serve continuar a ter paciência.
A não ser que ter paciência signifique apenas aguentar a impotência, o que, temos que convir, não é coisa que se diga ou que se deseje a alguém.
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